Para Eugénio de Andrade, os quatro elementos da Natureza assumem uma enorme importância. Esses elementos, são respectivamente o fogo, a água, o ar e a terra. Além disso, importa também tudo aquilo que invoca essa natureza, como por exemplo: o vento, a luz, as fontes, o mar, os animais, os frutos, as flores, os rumores e o sal. O fogo é símbolo do rito solar e da constante renovação da natureza. O fogo é amor e o corpo vive pela combustão constante que nele ocorre. No entanto fogo destrói e purifica, aniquilando e possibilitando a criação de um novo mundo ou de uma nova terra. A água remete para a fecundidade, para a vida natural e cristalina, para a pureza da criação e ainda para a procura incessante da harmonia do futuro. O constante movimento da água devolve-nos às origens, ao mistério do fluir da existência, à efemeridade. A água relaciona-se com a figura materna, pura e acolhedora, que transmite segurança. O ar, e tudo o que voa, são símbolo da liberdade original, pura e inocente. No entanto o ar é efémero, isto é, passageiro, tal como a vida, o amor, como tudo aquilo que é intenso. A terra está predominantemente relacionada com a aprendizagem da vida. A terra é símbolo da fertilidade e do ventre materno, sendo assim lugar de segurança e de criação perfeita. Terra e mãe são sinónimos, uma vez que a mãe e o falar materno trazem ao eu poético a evocação do paraíso da infância e a intimidade com a terra. Mas a terra é também símbolo de fecundidade, pois o seu interior é constituído por águas. Aí o corpo descobre a razão da vida e encontra o lugar do amor. O bosque, as flores, as árvores, os frutos são geralmente, metáfora das partes do corpo tocadas pela relação amorosa. Estes elementos míticos tradicionais estão sempre presentes na poesia de Eugénio de Andrade. Exprimem a procura incessante da pureza essencial. Permitem exaltar o amor e exprimir musicalmente a beleza sensual, mas, também, reconciliação e a inteireza do Homem. Os elementos míticos assumem um papel fulcral para reencontrar o outro corpo, os outros seres e, até mesmo, a própria solidão. A Natureza e o corpo humano ligam-se num universo transparente e lúcido transformado por uma percepção e uma vivência sensorial. É a natureza com toda a sua força que permite ao Homem viver plenamente. E é precisamente nesta relação que o Homem estabelece com a Natureza, que o Poeta busca a originalidade. Assim, os elementos míticos transformam-se em metáforas transfiguradas, ou seja, metamorfoses.
terça-feira, 6 de maio de 2008
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